Centro de Informação Europa Criativa

ir para conteudo
20-01-2023
Relatório defende estratégias e planos culturais destinados a promoção da saúde mental e do bem-estar dos jovens

O relatório “Youth, Mental Health and Culture” aborda a necessidade de estratégias e planos culturais destinados a promoção da saúde mental e do bem-estar dos jovens. Resultado de um brainstorming realizado em Bruxelas em outubro de 2022 num encontro que envolveu representantes de 53 organizações oriundas de 23 países das áreas da cultura, saúde, serviços sociais e educação, o relatório, iniciativa da plataforma Voices of Culture, que promove o diálogo estruturado entre o sector cultural da União Europeia e a Comissão Europeia, aponta que, para os sectores culturais e criativos, abordar a saúde mental e o bem-estar dos jovens significa repensar o seu próprio valor intrínseco.

Portugal esteve presente em Bruxelas através de Catarina Noronha e Luciana Costa, da Associação Aventura Social e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, respectivamente

O relatório procurou abordar o impacto da cultura e das artes na saúde e no bem-estar geral, ainda mais quando o papel da cultura e das artes ainda não alcançou o reconhecimento que merece por parte dos políticos e do sector social e da saúde. “Qual é a evidência sobre o papel das artes na melhoria da saúde e do bem-estar?” foi uma das perguntas que regeu o brainstorming, com o foco localizado numa das questões mais prementes do nosso tempo: a saúde mental juvenil. “Como as artes e a cultura podem abordar as múltiplas expressões de mentes jovens perturbadas diante das crises do nosso tempo?” foi uma das perguntas que toldou os dois dias de discussão na capital belga.

Em cinco grupos temáticos, os participantes analisaram as evidências e práticas dos sectores culturais e criativos sobre a saúde mental dos jovens sob diferentes ângulos, com o documento a apresentar as principais conclusões e recomendações nos cinco capítulos do relatório, que apresenta um amplo panorama de projectos bem-sucedidos realizados pelos membros do grupo ou organizações associadas. De referir que o teor geral da sessão de brainstorming foi que as estratégias e intervenções destinadas a promover a saúde mental e o bem-estar dos jovens precisa adoptar uma abordagem integrada, multidimensional e intersectorial.

«…as artes criativas e a cultura são ingredientes biopsicossociais e os seus impactos são multifactorial e afectam as dimensões física, psicológica, emocional e social, trazem alegria e alívio e podem ser transformadoras. Os seus efeitos dependem da natureza da intervenção, da experiência subjectiva do indivíduo e da situação do grupo. Portanto, os impactos e efeitos na saúde (mental) não são mensuráveis de acordo com um projecto específico. Uma solução não serve para todos. Uma abordagem metodológica mista e transversal será mais apropriada para avaliar a cultura em intervenções da saúde», podemos ler no relatório, que apresenta os seguintes capítulos:

• Evidências sobre a contribuição dos sectores culturais e criativos para melhorar a saúde mental e o bem-estar dos jovens, em nível local e nacional
• Evidências internacionais sobre a função da arte e da cultura na saúde mental da população jovem: quais as perspectivas?
• Colaboração intersectorial para apoiar a saúde mental dos jovens: sinergias e inovações
• Exemplos de intervenções com evidências robustas de resultados bem-sucedidos, especialmente em jovens desfavorecidos. Estratégias e ferramentas de avaliação de impacto
• Condições para o êxito

«Proteger e melhorar a saúde mental e o bem-estar dos jovens é um dever imperioso dos Estados-Membros e da União Europeia. Um dever urgente, mas que não pode ser cumprido apenas com medidas de emergência, mas com um compromisso constante e a longo prazo e com a mobilização de todas as forças válidas. Juntamente com os sectores da Educação, Saúde e Bem-Estar Social, os sectores Cultural e Criativo estão entre essas forças, representam recursos eficazes para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar e lidar com crises, como a recente pandemia demonstrou. Portanto, estratégias e planos que visam promover a saúde mental e o bem-estar dos jovens precisam adoptar uma abordagem integrada, multidimensional e intersectorial. Para os sectores culturais e criativos, abordar a saúde mental e o bem-estar dos jovens significa, de certa forma, repensar o seu próprio valor intrínseco. Significa também abordar as desigualdades de acesso e oportunidades e as lacunas culturais, sociais, económicas e digitais, que se agravaram desde a pandemia. Actividades culturais e artísticas participativas devem ser incluídas nos currículos escolares para garantir que todos os jovens sejam alcançados, independentemente das suas origens sociais, culturais e económicas. Actividades culturais e criativas gratuitas fora da escola também devem ser promovidas e financiadas publicamente, para garantir que crianças e jovens de famílias com dificuldades económicas também possam lucrar com elas. A participação e as intervenções criativas e culturais devem envolver, conectar e capacitar o ecossistema do jovem, mas também devem incluir, apoiar e educar pais, famílias, amigos, colegas, professores, etc.», podemos ler na conclusão, que defende ainda que a saúde mental e o bem-estar dos jovens representam um problema complexo e multidimensional e que uma resposta adequada só pode surgir de uma pluralidade de sectores políticos e que exige soluções que possam operar nesses sectores.

«O empoderamento dos jovens, não apenas a sua participação simbólica ou end-of-pipe, é uma escolha estratégica que não pode mais ser adiada. É essencial que os jovens estejam activa e plenamente envolvidos no desenvolvimento de políticas e intervenções culturais, criativas e relacionadas com a saúde, mas que também estejam envolvidos na sua co-criação e gestão. Melhorar a saúde mental, o bem-estar e a inclusão social dos jovens exige que eles tenham as oportunidades, o acesso e os recursos necessários para opinar nas decisões que afectam as suas vidas e os seus direitos fundamentais.»

Para ter acesso ao relatório completo, clique aqui.