“A Lição do Sonâmbulo”, de Frederico Pedreira e editado pela Companhia das Ilhas, foi o vencedor do Prémio de Literatura da União Europeia 2021 Portugal, uma distinção que deixou evidentemente satisfeito o seu editor, Carlos Alberto Machado, que salienta que a visibilidade pública do prémio teve como consequência imediata «um pequeno aumento de procura por parte de leitores e livreiros».
Em relação à escolha do júri pela obra, o editor da Companhia das Ilhas admite ter ficado surpreendido quando soube da distinção, principalmente porque, segundo a sua opinião, «os prémios têm uma componente política e de negócios com a qual a Companhia das Ilhas nada tem a ver», fruto ser uma pequena editora.st
«A Companhia das Ilhas continua fora do mainstream, onde gosta de estar. O Prémio de Literatura da União Europeia ajuda na divulgação internacional do autor, nada mais. E, mesmo assim, fora dos parâmetros dos grandes negócios: muito dificilmente uma editora de relevo no panorama europeu se interessará pelo autor e pelas edições da Companhia das Ilhas», salienta o editor, ainda mais sendo uma editora situada nos Açores.
«Não temos orgulho especial em estar numa vila de 300 habitantes, numa ilha de menos de 15 mil e num arquipélago de cerca de 250 mil. Portugal é pequeno e pobre, por muito que a propaganda oficial queira impor uma visão paradisíaca. Os livros, os escritores, os poetas sofrem muito com isso, aqui ou em qualquer parte do país.»
Até o momento, “A Lição do Sonâmbulo” está em processo de negociação, ou já em tradução, na Bulgária, Croácia, Macedónia, Sérvia e Hungria, uma prova de que a obra de Frederico Pedreira «é um livro de exceção e o seu autor uma das vozes poéticas e literárias (criador e ensaísta) mais importantes em Portugal», defende Carlos Alberto Machado, que este ano completa 10 anos de existência com a sua editora, sempre com uma postura muito peculiar no posicionamento editorial.
«A Companhia das Ilhas faz serenamente o seu caminho, por amor aos livros e aos seus criadores. Não sabemos quando poderá acabar, mas será sempre por vontade própria, sem qualquer tipo de constrangimentos (a não ser a morte dos editores). Ser independente é trabalhar como se quer e sair de cena quando apetecer.»
Recorde-se que o Prémio da União Europeia para a Literatura é uma iniciativa anual com vista ao reconhecimento de autores literários emergentes na Europa, um prémio lançado pela Comissão Europeia em 2009 e está aberto aos 41 países que integram o programa Europa Criativa. O prémio apresenta uma base anual rotativa (1/3 dos países a concurso por ano).
O Prémio da União Europeia para a Literatura tem como objetivo destacar a criatividade e a diversidade da literatura contemporânea da Europa no campo da ficção, promover a circulação de literatura e incentivar um maior interesse por obras literárias na Europa. Para encorajar a tradução e a circulação da literatura na Europa, é publicado uma antologia composta por excertos originais e traduzidos dos livros premiados, tanto na língua original como numa tradução inglesa ou francesa. O prémio incentiva ainda a participação dos autores em feiras por toda a Europa e no mundo, apoiando a organização de eventos em livrarias, institutos literários e/ou culturais e facilitando diversas parcerias, tanto presenciais como através da Internet.
Até o momento, os autores nacionais distinguidos com o Prémio da União Europeia para a Literatura foram os seguintes:
2021 - Frederico Pedreira, com “A Lição do Sonâmbulo”
2015 - David Machado, com “Índice Médio de Felicidade”
2012 - Afonso Cruz, com “A Boneca de Kokoschka”
2009 - Dulce Maria Cardoso, com “Os meus Sentimentos”
Recorde-se que o Europa Criativa, vertente Cultura, tem linhas de financiamento específicas para o sector do livro, nomeadamente Apoio à Circulação de Obras Literárias, cuja próxima convocatória está prevista para Outubro/Novembro de 2022.