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24-06-2022
«A partilha internacional foi um dos principais focos de interesse do projeto Beta Circus»

No próximo dia 7 de julho, em Ílhavo, realiza-se a conferência final do Beta Circus, projecto co-financiado pelo Europa Criativa e que reuniu durante um ano quatro parceiros europeus, nomeadamente Bússola (Portugal), Teatro Necessario (Itália), Ludifico (Sérvia) e Rigas Cirks (Letónia). Ao longo dos 12 meses, a troca de experiência e partilha foi intensa, como ficará demonstrado no próximo mês. «A conferência não pretende marcar um final, mas celebrar o projeto de cooperação e disseminar os resultados, abordando ainda o futuro da magia e as perspetivas para o desenvolvimento e inovação no domínio do circo», referem Bruno Costa e Daniel Vilar, da Bússola


Poderiam explicar o que é o “Beta Circus”? Quando foi criado, a sua finalidade, como funciona, etc.
O Beta Circus foi criado em 2020 por quatro organizações parceiras – Bússola (Portugal), Teatro Necessario (Itália), Ludifico (Sérvia) e Rigas Cirks (Letónia) – com objetivos centrais de apoiar o acesso a novas tendências estéticas na área do circo, para artistas e para o público. Como ponto de partida, optou-se por focar na magie nouvelle: um movimento artístico que, nas últimas décadas, tem o seu epicentro em França. Em termos gerais, utiliza técnicas da magia para não só criar efeitos espetaculares, mas também uma linguagem e dramaturgia que reconsidera como é que a realidade é criada no palco. Neste sentido, o movimento segue um caminho semelhante ao do circo contemporâneo de forma mais ampla, que reimaginou os códigos clássicos da prática. Após uma convocatória internacional, foram selecionados 12 artistas de 11 países, que participaram num programa de capacitação que decorreu em cada um dos países parceiros através de uma metodologia de aprendizagem focada pela experiência numa relação direta com mentores profissionais especializados.

Um dos objetivos desta iniciativa é «compensar a falta de oportunidades para os artistas obterem formação profissional». Este é um dos principais problemas do meio?
Apesar da existência de formação e entidades credenciadas para o efeito, no domínio do circo observa-se uma lenta disseminação da inovação estética e dramaticidade nos países europeus mais periféricos, atrasando a criação de tendências europeias e resultados concretos. Desta forma, consideramos que a formação informal e a realização de programas específicos, como a primeira edição do Beta Circus, podem contribuir ativamente para a capacitação de artistas e produtores, numa missão de apoiar a disseminação de técnicas e estéticas inovadoras.

Em termos resumidos, o que foi abordado e o que destacariam destes últimos 12 meses?
O Beta Circus foi estruturado não como um currículo rígido definido, mas como uma introdução aberta ao contexto. Realizado através de uma série de pequenos módulos intensivos distribuídos por um ano, envolveu um grande número de atividades, reunidas em torno de um eixo central de seis workshops com seis especialistas. Estes mentores encarnaram não só diferentes estilos artísticos, mas também técnicas e subgéneros completamente distintos de magie nouvelle. Na maioria dos casos, os mentores fizeram também apresentações públicas dos seus espetáculos durante a sua semana de formação, apresentando o seu trabalho ao público local e dando aos artistas a oportunidade de verem as técnicas que aprenderam na aula em ação no palco. Neste sentido, o projeto foi, em si mesmo, um curso fundamental - uma introdução à magie nouvelle - que ofereceu aos artistas múltiplas perspetivas e oportunidades de encontrar pontos de contacto entre as técnicas e as suas próprias formas de trabalho.

O “Beta Circus” termina no próximo dia 7 de julho, com o “Beta Circus – Final Conference”. O que podemos esperar desta conferência e qual o seu foco central?
A conferência não pretende marcar um final, mas celebrar o projeto de cooperação e disseminar os resultados, abordando ainda o futuro da magia e as perspetivas para o desenvolvimento e inovação no domínio do circo. Além do programa de debates e keynotes, será também lançada a publicação que resume a metodologia e os resultados e será estreado o documentário que destaca o perfil dos participantes internacionais e a sua evolução durante o projeto.

“Magic in our lives” foi o tema chave escolhido para a conferência. Uma frase que resume, no fundo, o que são as artes circenses?
Na verdade, a frase tem vários significados. Intrinsecamente poderemos conectar com a visão clássica das artes do circo. Por outro lado, destacar o contexto do projeto e encarar a magia contemporânea como uma tendência artística para os próximos anos. E, por fim, observar o lado menos óbvio da magia, que Remi David irá explorar no seu keynote, demonstrando onde podemos encontrar a magia no nosso dia-a-dia: na política, na economia ou no trabalho.

Ao longo de um dia terão grandes nomes da área. Concretamente, quem são os oradores e qual a sua importância no meio? E o que poderiam falar da conferência em si?
O programa divide-nos a perspetiva em três momentos essenciais. Começamos por debater o futuro da magia, num painel com Luís de Matos – ilusionista com grande experiência internacional e visão estética inovadora num contexto mais tradicional da magia - e Valentine Losseau - antropóloga, ilusionista, dramaturga e diretora artística da Cie. 14:20, sendo uma das fundadoras do movimento magie nouvelle. Segue-se um keynote de Rémi David - mágico e escritor –, que irá destacar as abordagens à magia no nosso quotidiano. O dia termina com uma mesa-redonda que pretende debater perspetivas para a inovação do circo contemporâneo com Cláudia Berkeley - Teatro da Didascália -, Verena Cornwall - diretora do Winchester Science Centre, do St. Patrick’s Festival/Dublin e do CircusFuture - e Vittoria Lombardi - curadora e diretora da cultureandprojects, que dedica o seu trabalho à arte participativa. Os moderadores são, respetivamente, Kalle Nio - artista visual, mágico e encenador -, Mira Dobrkovic - fundadora e diretora do Centro de Desenvolvimento para as Artes do Circo Ludifico - e Mara Pavula - diretora do Riga Cirks.

É uma conferência aberta a todos ou apenas ao meio?
Embora consideremos os profissionais das artes performativas como principal público-alvo, de facto a conferência é aberta a todos devido à forma acessível como os conteúdos serão abordados e discutidos. O acesso é isento de custo, sendo necessário proceder à inscrição prévia através do website www.betacircus.eu.

Este projeto é apoiado pelo programa Europa Criativa. Qual foi a importância deste apoio para a viabilidade do “Beta Circus”?
O apoio do programa Europa Criativa foi essencial para a implementação do projeto. Sem esse suporte financeiro e de visibilidade não teria sido possível a sua execução.

E o que destacariam deste apoio e como foi todo o processo?
Vemos no programa Europa Criativa uma ferramenta fundamental de apoio à implementação de projetos artísticos transacionais, que responde de forma eficaz às lacunas de financiamento de cada um dos Estados-membros. Não poderemos afirmar se tratar de um processo simples e rápido: da candidatura à execução existe um conjunto de necessidades/responsabilidades que exigem uma dedicação especial. De qualquer forma, a nossa experiência foi positiva e facilitada pelo apoio contínuo do gabinete Europa Criativa em Portugal e o acompanhamento dedicado da EACEA, com uma resposta atempada e adequada a todas as situações, incluindo a flexibilidade nos tempos de implementação em resposta às limitações impostas pela pandemia.

Como referiram, tiveram como parceiras entidades oriundas de Itália, Sérvia e Letónia. Como foi este processo de parceria europeia?
No ano 2019, o parceiro italiano (Teatro Necessario) contactou-nos apresentando uma evidente necessidade de capacitação e apoio à disseminação do domínio da magia contemporânea. No contexto das redes europeias em que estamos presentes, foi desenvolvido o consórcio de parceiros, que apesar do conhecimento anterior através de redes como a Circostrada, se baseava numa total novidade de trabalho colaborativo entre as entidades. A partir da experiência e recursos de cada parceiro, foi desenvolvido o projeto e as respetivas atividades. O processo revelou-se fluído e tranquilo, com uma relação de comunicação eficaz entre os parceiros, que permitiu a utilização de ferramentas digitais para uma proximidade que possibilitou uma colaboração eficaz e um processo de decisão verdadeiramente colaborativo.

Salientaria esta partilha como um dos principais focos de interesse deste apoio?
Completamente. O apoio do programa Europa Criativa possibilitou a implementação da parceria e do trabalho colaborativo, que não teriam sido possíveis com outros mecanismos de financiamento.

E qual foi o papel da Bússola no “Beta Circus”? O projeto foi liderado por vocês, por exemplo? Poderiam abordar, resumidamente, o vosso papel em todo o processo?
A Bússola assume a liderança do projeto e a sua coordenação, num prisma de total envolvimento dos parceiros, considerando as mais-valias de uma real cooperação. Na divisão de responsabilidades, além da coordenação da implementação, a Bússola assumiu a coordenação dos processos de comunicação, das ações de disseminação e da open call internacional.

Do vosso ponto de vista, quais portas foram abertas com esta iniciativa?
O projeto contribuiu fortemente para a visibilidade internacional dos parceiros e o seu reconhecimento no meio por entre os seus pares europeus. A implementação provou a capacidade dos parceiros para a implementação de projetos transnacionais, com consequências ao nível de possíveis novas colaborações futuras, algumas com candidatura submetida e outras em fase de desenho de projeto e avaliação de metodologias de implementação. Em resumo, o Beta Circus solidificou a visão internacional dos parceiros e a sua dimensão europeia, transformando-as numa missão quotidiana aplicável de forma transversal nas organizações.

E o que mais os surpreendeu desta experiência?
A conexão criada entre o grupo de participantes internacionais e as perspetivas futuras que já se desenham. Além do programa de capacitação, os participantes constituíram um verdadeiro grupo criativo que, para lá do exercício final, criou sinergias e perspetiva futuras criações artísticas colaborativas que irão reforçar o legado do projeto e disseminar a magia contemporânea através da sua aplicação prática.

Ou seja, o “Berta Circus” não termina efetivamente no próximo dia 7 de julho com a sua conferência?
O Beta Circus foi desenhado estrategicamente para não se extinguir com o final do atual projeto. Podemos assumir que o dia 7 de julho marca o final do ciclo dedicado à magia contemporânea, mas assume um momento de viragem de página. Boosting European Trends and Artists in Circus Arts é o mote por detrás do programa: pretende-se, assim, manter o objetivo base e colaborar nos próximos anos para a disseminação de novas tendências para o circo contemporâneo. As sementes são evidentes, havendo já outras colaborações entre os parceiros: a mais visível poderá resultar num segundo ciclo e numa temática que surgirá das conclusões da conferência de 7 de julho.

 

«A partilha internacional foi um dos principais focos de interesse do projeto Beta Circus»
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